Galiza / Norte Portugal


Galegos lideram projectos comuns

Congresso debate, hoje, segunda-feira, formas de esbater fronteiras entre Norte e Galiza.

Estão aprovadas 27 candidaturas a fundos europeus para projectos entre o Norte e a Galiza, mas só nove são liderados por portugueses. Será sintoma do desinteresse com que os nortenhos olham para os vizinhos galegos?

Nas últimas décadas, a Galiza alcançou um nível de vida com o qual o Norte só pode, neste momento, sonhar. Apesar de o lado português ter algumas das maiores fortunas do Mundo, como Américo Amorim ou Belmiro de Azevedo, o nível de vida da maioria da população é bastante inferior ao da galega, lembra António Vilar, cujo gabinete de advogados organiza hoje um congresso no Porto destinado a estreitar laços económicos entre as duas regiões.

"Para sairmos da crise, temos que nos juntar à Galiza" e olhar além do Atlântico, para África e a América do Sul, assegura. Por isso, quer incentivar empresas dos dois lados da fronteira a aproximarem-se e a juntarem-se para ganhar tamanho suficiente para avançar para outros mercados.

"Assumo que é um congresso político", disse António Vilar, referindo-se também, assim, às pessoas escolhidas para estarem presentes na Fundação Cupertino de Miranda. Luís Mira Amaral, presidente do Banco BIC, Nogueira Leite, professor universitário, Paulo Vaz, direcção geral da Associação Têxtil e de Vestuário, Daniel Bessa, responsável pela Cotec ou Ângelo Correia, presidente da Fomentinvest são alguns dos intervenientes. O congresso será aberto pelo responsável pelas relações exteriores da Junta da Galiza, Jesús Gamallo. Ao final do dia, o encerramento ficará a cargo de Carlos Lage, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte.

António Vilar reconhece que a Galiza tem uma força económica que o Norte já perdeu e atribui esse feito a uma pessoa: Fraga Iribarne, presidente da região autónoma galega durante longos anos. "E Fraga só existiu porque existe um governo regional na Galiza", discorreu, a propósito da pergunta sobre o segredo dos vizinhos nortenhos para o seu sucesso.

Daí, concluiu: "Se a organização política do país não for resolvida, não haverá desenvolvimento harmonioso". "Desde que seja feita com cuidado", disse, começando primeiro pela reformulação do sistema de financiamento dos partidos e com a activação da sociedade civil enquanto contraponto ao sistema político.

E desfiou exemplos de causas do actual desequilíbrio, começando pelos fundos comunitários, destinados às regiões pobres mas geridos a partir de Lisboa. "O Norte tem sido esquecido", disse.

|JN|

Lisboa e os provincianismos

Rui Valente

Sou muito bairrista e também regionalista. Gosto da minha terra, da grande - Portugal - e da mais pequena - o Porto, sendo que esta foi semente daquela.

Mas, ao contrário do que pode parecer em face de tantas e tantas críticas que faço a Lisboa, aprecio as muitas e indiscutíveis qualidades da nossa capital. Seria fastidioso enaltecer aqui tais qualidades, que existem independentemente do maior ou menor sublinhado que delas se faça.

A questão é que Lisboa não é, para Portugal, apenas uma cidade, porque nesse ponto não merece crítica, nem reparo, nela vivendo a nossa brava gente portuguesa.

Pelo contrário, Lisboa não é uma coisa má, como é evidente, mas representa, para Portugal, muita coisa má.

Ao contrário de Madrid para Espanha, de Londres para o Reino Unido, de Paris para a França, de Haia para a Holanda, de Bruxelas para a Bélgica, Lisboa não é um foco de desenvolvimento para Portugal, tal como Atenas não é um foco de desenvolvimento para a Grécia.

Nos outros países europeus a capital é um centro político e administrativo dinamizador de todo o território, que percebe que se desenvolver o resto do País acaba por ganhar em riqueza e em qualidade de vida, porque a si deixam de acorrer os migrantes do País.

Em Lisboa, tal como Atenas, os migrantes tomam conta do poder e agarram-se a ele com a fome e a força de que tem medo de tudo perder por ter tido tão pouco, tudo mitigado com aquele tipo de novo-riquismo que, chegado à capital, se transforma em provincianismo puro.

Lisboa deve ser a cidade com menos mobilidade da Europa. Nos demais países europeus, porventura com a excepção da grécia, as pessoas percorrem, por sistema o seu País, tendo necessidade de fugir da capital.

Em Lisboa, as pessoas, quando querem fugir, saem do País, mas evitam visitar o resto do País, a que chamam "província", sem perceber que também a província - sobretudo no seu pior - de há muito se centralizou na nossa capital. O texto de José António Saraiva no "Sol" de hoje é, a esse respeito, um texto interessante.

Por tudo isso todos percebemos que a regionalização vai chegar apenas quando os fundos comunitários se esgotarem. Porque tal como na Grécia (único País da União Europeia que, com excepção de Portugal, também não está regionalizado), em Portugal a regionalização não avança por boicote de uma cidade que tem medo (tonto, tacanho e infundado) de perder dinheiro e poder.

Por isso é que há empresas ex-públicas-pseudo-privadas que têm benefícios para se instalar no interior e depois acabam por "apostar" ... em Lisboa.

Só regionalizando é que nos podemos livrar de um centralismo que Lisboa representa e que tolhe o nosso desenvolvimento há séculos e que explica que Lisboa e seus arredores-tipo-gueto-semi-favelizados tenha muito mais semelhanças com Lima, com a Cidade do México, ou com La Paz do que propriamente com Madrid, ou Roma.

Também por isso quase não temos cidades "médias" e estamos a desocupar o interior. Basta comparar o que cresceu Salamanca nos últimos 20 anos e o que "mingou" a nossa Guarda para ficarmos esclarecidos...

Veja-se o Alentejo, primeira e principal vítima desse tremendo eucalipto que é Lisboa. No tempo dos meus netos, o Alentejo vai eleger um deputado...

Durante muito tempo vingou a tese de que a regionalização gerava caciques.

Esse argumento está, em razão de todos os acontecimentos dos últimos anos, pulverizado, à luz de coisas que se passam na capital e por assistirmos a grandes provas de maturidade e critério democrático na província.

Ferreira Torres não perdeu as eleições no Marco de Canavezes? Fátima Felgueiras não perdeu as eleições em Felgueiras? Pois é... Onde estão, afinal, os provincianos do País?
Publicada por Rui Valente

PSD quer referendo sobre regiões após presidenciais

José Pedro Aguiar-Branco, líder parlamentar do PSD e vice do partido, defende que uma decisão sobre regionalização só pode ser tomada com novo referendo. E após as presidenciais. Pessoalmente, é favorável a esta reforma administrativa.

Contactado pelo JN, o deputado nortenho destacou que a posição do partido é a de exigir que a regionalização seja tratada no âmbito de uma nova consulta. Mas, perante a crise, considera que o assunto só deve ser discutido após as presidenciais, previstas para Janeiro de 2011. Até lá, e para fazer face ao centralismo e empobrecimento da região, apela a uma "visão integrada" por parte dos autarcas e deputados do Norte.

"Pessoalmente, sou favorável à regionalização. É uma posição de sempre porque acho que é por via dela que podemos encontrar uma capacidade mais forte de aproveitar de um modo integrado as potencialidades de toda a zona Norte". Isto "permitindo uma gestão mais criteriosa dos recursos, quer de equipamentos, quer naturais, quer humanos", disse, reagindo ao cenário negro traçado pelo JN sobre a região, na edição de ontem.

"Significa isto que, ao contrário do que por vezes se diz, entendo que os encargos inerentes à regionalização são muito menores do que os benefícios que poderão ser retirados", prosseguiu.

O líder de bancada recordou, em seguida, que, no seu programa eleitoral, o PSD "assume que a decisão sobre esta matéria deverá ser concretizada por via do referendo". "Estou de acordo", nota o deputado, destacando que se trata de um compromisso "que também foi assinado pelos deputados que integram o círculo do Porto".

"Há pessoas que são pela regionalização, outras não. O que há em comum é que todos entendem que esta matéria deve ser tratada através do referendo", reforçou.

Questionado sobre o momento em que deve avançar, Aguiar-Branco foi inequívoco. "Entendemos que esta crise, que tem características de excepção, aconselha a que o país se concentre na discussão e realização das medidas que permitam sair dela. E que só após isso nos concentremos na regionalização. Agora, penso que antes das presidenciais não é viável que comece a discutir-se esta matéria", explicou.

Enquanto não há regiões, defende "um esforço do poder local para tratar as matérias o mais possível de forma integrada". E também os deputados eleitos pelos círculos da região devem "ter um desenvolvimento mais integrado da sua actividade no Parlamento". Uma "concentração de esforços" que pode "ajudar a minimizar" os problemas e deve envolver "as forças vivas da sociedade civil".

Em declarações publicadas ontem pelo JN, também Francisco Assis, líder da bancada socialista, Renato Sampaio, líder do PS/Porto, e Carlos Lage, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte, remeteram o tema para 2011.

Francisco Assis considera não ser possível "alterar a Constituição nos próximos tempos", pela necessária maioria de dois terços. Particularmente, crê que "a obrigatoriedade do referendo é algo que não tem muito sentido".

Numa visão "mais realista", admite que seja feito mas constata que, antes das presidenciais, "não há condições". Até lá, defende uma maior "racionalização do aparelho desconcentrado da Administração Pública".

Assis nota que "há ainda um forte centralismo, nalguns casos crescente". E a crise "favorece esse centralismo". Porque o Norte ficou debilitado, tem menos força para "o contrariar". O centralismo, concluiu, "acabou por reforçar-se" por "razões políticas e económicas". E tem "causas internas e externas".

|JN|