Gestão descentralizada pode ser ruinosa para o Sá Carneiro

Estudo aponta impactos negativos para uma administração autónoma do aeroporto do Porto

|VIRGÍNIA ALVES - JN|

A gestão descentralizada do aeroporto Francisco Sá Carneiro seria ruinosa para esta estrutura, revela um estudo encomendado pela ANA, em contraponto com a defesa de uma gestão autónoma que é feita por algumas forças políticas do Norte.

O estudo, para identificar as vantagens e inconvenientes da gestão em rede ou independente dos aeroportos, foi encomendado pela ANA- Aeroportos Portugal ao Boston Consulting Group e à Universidade Católica e a conclusão é clara.

"De uma forma global, o Estado e os contribuintes dificilmente sairiam beneficiados com a adopção de um modelo de gestão descentralizado", lê-se no documento a que o JN teve acesso. Explicando que tal aconteceria porque "os aeroportos estruturalmente deficitários teriam que passar a ser alvo de financiamento com carácter de subsidiação, com impacto directo nos contribuintes".

Esta análise, que teve em conta dados do sector reunidos junto do BPI e do Citibank, recordam, como enquadramento, o investimento feito no aeroporto Francisco Sá Carneiro (AFSC), no Porto entre 2000 e 2005, na ordem dos 400 milhões de euros, que, como adiantam, permitiu que em 2007 fosse considerado o melhor a nível europeu.

Algo que se pode perder caso o aeroporto fique fora da rede ANA, e se o Estado não entregar o activo a custo zero, para remunerar o investimento feito.

Enumerando as consequências negativas, o estudo aponta logo os preços praticados pelo aeroporto, os quais teriam de passar a reflectir mais directamente a real estrutura de custos da infra-estrutura. Assim, uma análise do impacto do modelo de gestão separada aponta para um cenário no qual o aeroporto do Porto "teria que aumentar o preço médio cobrado por passageiro em 165%".

Uma medida que teria como consequência "a 'fuga' de companhias de baixo custo para aeroportos mais baratos (Lisboa desde logo, porque ficando aliviada de subsidiar o Porto, pode baixar os seus próprios preços em 45%)".

Por outro lado, sublinha que só em "2016 é que, pela primeira vez, a operação do AFSC geraria um montante para remunerar os activos líquidos do ano correspondente", pelo que "seria necessário um investidor com fôlego suficiente para suportar perdas acumuladas durante largos períodos de tempo".

Nesta análise, os consultores tomaram como ponto de partida a hipótese de o AFSC estar a operar de forma independente desde 2008, com base no activo líquido e montante equivalente à sua remuneração, e dizem "que só em 2028 seria compensado".

Ou seja, acrescentam, para eliminar o défice, que poderia atingir os 220 milhões de euros negativos entre 2015 e 2017, sem subsídios estatais, o aeroporto teria que aumentar o "tráfego na sua área de influência a mais cinco milhões de passageiros", o que consideram difícil, uma vez que é "um valor superior ao total de passageiros de todos os aeroportos da Galiza".

Em termos estratégicos, o estudo indica que o AFSC perderia dimensão relativa face a operadores internacionais.

No que diz respeito à concorrência, que hoje é residual entre Porto e Lisboa, "seria acrescida pela entrada em operação do serviço ferroviário de alta velocidade, sendo previsível o reforço do efeito de magneto da capital em consequência da oferta de transporte aéreo".

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