2009. O pior ano de sempre para as exportações com a ajuda de Angola


por Luís Reis Ribeiro, Publicado em 09 de Fevereiro de 2010  

Nas mercadorias, motor da economia portuguesa, as exportações afundaram mais de 18%, o pior registo desde 1960

Trabalhador africano carrega sacos de cimento em Zangoio, arredores de Cabinda
O ano de 2009 foi o pior de sempre para os exportadores portugueses e Angola - que durante muito tempo foi a maior esperança como mercado alternativo de vendas para o exterior (é hoje o quarto destino mais importante) - também não fugiu à regra. Em 2010, a situação deverá melhorar ligeiramente, mas não compensará a grande crise do ano passado.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações portuguesas de mercadorias, o motor da economia nacional, afundaram mais de 18% em 2009, o pior registo desde 1960, pelo menos. A crise das economias europeias, que no seu conjunto compram 75% dos produtos que Portugal vende ao exterior, explica bem o sucedido. Uma atenção especial ao caso espanhol: esta economia está a braços com uma das crise mais severas de toda a Europa, e isso contagia bastante a capacidade de retoma da economia nacional. Apesar da crise e da lenta diversificação dos mercados de exportação, Espanha ainda é o melhor cliente: é para lá que vai mais de 25% da vendas totais.

A exportação de mercadorias é a mais importante já que representa cerca de 65% do total. O resto, serviços vários e turismo, tem vindo a ganhar algum peso na estrutura (reforçando a componente mais tecnológica e de maior valor acrescentado), mas ainda é insuficiente para imunizar a economia portuguesa contra a concorrência dos países de baixos custos salariais, caso da China e Índia. As principais exportações portuguesas continuam a ser máquinas e material de transporte.

Inverno angolano
Adverso foi também o comportamento das vendas para a economia angolana, que recentemente ultrapassou o Reino Unido, tornando-se no quarto mercado de destino a seguir a Espanha, Alemanha e França. Depois de vários anos de crescimento explosivo (51% em 2006, 39% em 2007 e 35% em 2008), Angola terminou o ano transacto a comprar menos. As exportações portuguesas para o país africano, que hoje valem cerca de 7% do total caíram cerca de 0,6%, reflectindo as dificuldades financeiras em que o país mergulhou quando o preço do petróleo começou a cair, depois do choque (pico) em meados de 2008.

Manuel Ennes Ferreira, professor do ISEG especialista em economias africanas, explica que "à economia angolana não serve um petróleo a valer 60 ou 70 dólares por barril". "Os custos de produção são elevados e como tal, os preços actuais do petróleo retiraram as margem generosas que existiam." Foi com esse dinheiro que Angola embarcou num ambicioso programa de investimentos públicos que agora "teve de ser aligeirado".

O economista explica que a situação tornou-se delicada ao ponto de o país ter de impor limites às saídas de reservas cambiais, atrasando pagamentos a fornecedores. Entre estes estão muitas empresas portuguesas, sobretudo no ramo da construção, um dos mais afectados pela secagem nas receitas do petróleo. "Menos investimento público significou menos importação (exportação portuguesa) de bens de equipamento", observa o economista. As máquinas para a construção são, justamente, a mercadoria mais vendida pelos portugueses, valendo quase 20% do valor total. "O Estado angolano nunca deixou de pagar, pediu foi mais tempo aos seus fornecedores para o fazer". A situação entretanto está "a normalizar, mas enquanto o petróleo estiver nos níveis actuais [na casa dos 70 dólares] a pressão sobre os pagamentos continua a existir", explica. Em entrevista ao i, Luís Mira Amaral, presidente do banco BIC, que está implantando em Angola, descreveu um cenário parecido.

Em todo o caso, a recuperação nas cotações do petróleo deve acontecer muito gradualmente ao longo deste ano já que as economias estão a sair lentamente da maior recessão em décadas. O barril, que em 2008, ano do boom angolano, negociou a uma média de quase 100 dólares, ficará este ano pelos 76 dólares. É pouco para uma economia que depende essencialmente desta matéria prima para crescer.

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